Plantar, adubar e compostar. Esse foi o tema do terceiro encontro de Formação Continuada, promovido pela EcomAmor no dia 17 de agosto no Colégio Estadual Severiano de Araújo, em Goiânia. A ação faz parte do Eixo 2 do projeto “Da Horta para a Merenda”, que tem o objetivo de combater a insegurança alimentar e nutricional dos estudantes e garantir um espaço de aprendizagem enquanto extensão da sala de aula.
O Eixo 2 envolve uma série de quatro encontros presenciais de formação continuada, voltados para as pessoas responsáveis pelas hortas de cada instituição, com discussão e oficinas referentes a temas específicos. O primeiro encontro teve como tema “Semear Comunidades” e serviu para que as pessoas envolvidas no projeto se conhecessem e disso brotasse um sentimento de pertencimento e comunidade; o segundo encontro, “Colher e Cozinhar”, discutiu alimentação e aproveitamento integral de alimentos; o quarto e último encontro terá como tema “Multiplicar o Aprendizado”, reforçando a ideia da EcomAmor de formar agentes de transformação na comunidade.
A programação do terceiro encontro do Eixo 2 teve início com um momento de acolhida e resgate das memórias geradas pelos encontros anteriores, para sensibilizar as pessoas participantes sobre a importância do engajamento na construção de uma comunidade forte.
Em seguida, a diretora de Realização da EcomAmor, Melina Charalabopoulos, apresentou o método de plantio da EcomAmor, inspirado em princípios agroecológicos. A agroecologia caracteriza-se como movimento sociopolítico baseado em práticas economicamente eficientes e socialmente justas que respeitam o meio ambiente. Uma produção agroecológica considera os aspectos socioeconômicos e culturais dos grupos abrangidos e representa uma estratégia de promoção de saúde e segurança alimentar.
Saindo da sala de aula e indo para a prática, o encontro promoveu uma visita guiada à horta do Colégio Estadual Severiano de Araújo, oportunidade para identificar espécies vegetais, detectar desequilíbrios e discutir métodos para enfrentá-los, além de discutir princípios de poda, colheita, replantio e cobertura vegetal, tudo de modo horizontal, com a participação ativa das pessoas representantes das instituições de ensino, trocando experiências e saberes que aprenderam tradicional ou formalmente.
Mariana Nassu, formada em Biologia, facilitou uma roda de conversa sobre compostagem, técnica para a transformação de restos orgânicos, como restos frutas e verduras não ingeridos na alimentação, em adubo, e ensinou o passo a passo para construir uma composteira caseira. Ela conta que a semente do seu interesse pelo tema veio ainda na faculdade, quando cursou uma disciplina de agroecologia. Mas somente após a faculdade, ao ver um tutorial na internet, colocou em prática em seu apartamento, e logo se viu fazendo composteiras para família e pessoas amigas.
A bióloga cita, entre os benefícios da compostagem, o reaproveitamento de lixo que seria descartado, que é transformado em adubo para utilização em hortas ou jardins. Além disso, observar o ciclo de decomposição e transformação de alimentos tem potencial para transformação nossa relação com o consumo. “Eu começo a lidar de forma diferente com o desperdício, com os alimentos que eu como”, pontua Mariana.
Uma composteira pode, também, reconectar as pessoas que vivem em espaços urbanos com a natureza. Segundo Mariana, fazer compostagem desmistifica e ressignifica essa relação dos processos e ciclos naturais, porque envolve trazer para dentro de casa terra, minhoca e o que antes era tido como lixo.
Um dos relatos que emocionou as pessoas presentes no encontro veio da professora Marli Gonçalves, que ministra aulas de Biologia e Ciências. Com quinze anos de magistério, ela percebeu que poderia melhorar a alimentação e a merenda das crianças e sentiu a necessidade de mudar aquele ambiente, que tinha um espaço abandonado. Assim surgiu a horta naquela escola.
Marli destaca o papel da EcomAmor nesse movimento. “A ONG veio despertar esse desejo que eu tinha, [mas] não sabia por onde começar. Foi assim que a gente se viu dentro do projeto ‘Da Horta para a Merenda’, começando a motivar nossos alunos, na prática”, explica. “O plantio foi o [momento] mais emocionante, foi lá que toda a escola começou a se sentir motivada”, prossegue a professora, que levou as lições de agroecologia para sua casa. Marli conta que, hoje, sua família já separa os restos de alimentos para a compostagem.
Encerraram a programação Rodrigo Souza e Tálita Nogueira, voluntárias da EcomAmor, que conversaram sobre caldas e iscas para controle de desequilíbrio da horta e trouxeram receitas caseiras para o cuidado com as plantas e garantia de um sistema equilibrado.
O terceiro encontro do Eixo 2 mostrou um fortalecimento da comunidade participante do projeto “Da Horta para a Merenda”. Como observa Bárbara Lopes, diretora de Gestão de Projetos da EcomAmor, há “um maior envolvimento por parte dos representantes das escolas no Eixo 2 e também uma compreensão mais ampla do processo que estamos construindo coletivamente. Se no início existia uma expectativa quase exclusiva em “aprender a plantar”, hoje já noto que existe uma percepção mais cuidadosa com os vários temas que atravessam a horta”.
Bárbara destaca ainda o papel da formação continuada na formação de agentes multiplicadores. “O último encontro foi muito rico nesse sentido e saímos de lá com o coração aquecido diante da devolutiva que recebemos das escolas”, resume.