A EcomAmor promoveu no dia 13 de abril o seu 1º Dia de Campo de 2019, no assentamento Dom José Gomes, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Corumbá de Goiás. Foi uma iniciativa com o intuito de sair da cidade com destino ao campo, para ver de perto como funcionam processos produtivos de agricultura familiar que seguem padrões agroecológicos, gerar diálogo e promover reflexões.
Durante a manhã do Dia de Campo, uma roda de conversa no Centro de Formação do Assentamento, Santa Dica dos Sertões, sobre o MST e sua relação com a agroecologia instigou o público a desmistificar visões sobre o movimento e a luta pela terra. No período da tarde, os participantes, entre voluntários da ONG e público externo, se dividiram em dois grupos para conhecer os sítios de produção agroecológica. As hortas, que seguem princípios agroecológicos, produzem alimentos para abastecer os acampados e assentados, como pimenta, maracujá, acerola, abóbora e mandioca, e o excedente é comercializado.
A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, instituída no Brasil pelo Decreto nº 7.794, de maio de 2012, define produção de base agroecológica como aquela que busca otimizar a integração entre capacidade produtiva, uso e conservação da biodiversidade e dos demais recursos naturais, equilíbrio ecológico, eficiência econômica e justiça social.
O Dia de Campo da EcomAmor possibilita o contato com outras realidades, o entendimento sobre como o acesso a direitos básicos, como alimentação e terra, ainda é negado a muitos e oportuniza, também, ouvir histórias, como a de João Teixeira, que deixou o estado do Ceará em 03 de fevereiro de 1997, como ele mesmo faz questão de registrar, e foi para São Paulo, trabalhar na construção civil, e de lá seguiu para o Rio de Janeiro. Entre andanças, ele conheceu o MST em 2012.
Bom de memória, ele lembra que seu aniversário de 40 anos, em 04 de abril de 2012, foi também seu primeiro dia como acampado. “O Movimento me incentivou a ler e a conhecer o que é a sociedade, o camponês, o agronegócio. O MST, pra mim, é cultura. A gente zela pelos antepassados que lutaram pela terra”, comenta João, ao destacar a ancestralidade marcada no nome do Centro de Formação, Santa Dica, como ficou conhecida Benedicta Cipriano Gomes, líder social e religiosa da região de Goiás.
As visitas às produções foram guiadas por integrantes do Centro de Formação, entre eles o simpático “Frango”, como é conhecido por todos no lugar. No Centro, ele atua na reforma dos espaços e na produção, que respeita os critérios de sustentabilidade. Ele conta que a relação do MST com a agroecologia foi se construindo com o tempo, a partir de 2006, uma pauta levantada e defendida principalmente pelas mulheres do movimento. Como ele explica, “a agroecologia é hoje uma de nossas maiores bandeiras de produção. Não adianta a gente produzir, mas com má qualidade, que pode trazer doenças”.
O Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional 2018, estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), relaciona a vulnerabilidade social à insegurança alimentar. De acordo com o relatório, entre as principais causas do crescimento da desnutrição nesses grupos estão as mudanças do ciclo da produção ao consumo dos alimentos. A agroecologia, nesse sentido, ganha espaço como estratégia de garantia da segurança alimentar e produção sustentável, respeitando o meio ambiente.
A EcomAmor, organização não governamental que conecta pessoas à agricultura por meio de hortas urbanas agroecológicas em instituições públicas, defende o direito de todo cidadão a ter acesso a alimentos saudáveis e culturalmente adequados. O Projeto “Da Horta para a Merenda”, que está sendo realizado em 2019, pretende implantar hortas
em seis instituições públicas de ensino de Goiânia, Aparecida de Goiânia e Senador Canedo. Para a ONG, as hortas escolares são percebidas como um espaço fundamental de apoio à complementação da merenda escolar.
Em Assembleia Geral, a ONU proclamou a próxima década, de 2019 a 2028, como a Década das Nações Unidas para a Agricultura Familiar. Para a FAO, a família e o campo representam uma unidade que desempenha funções econômicas, ambientais, sociais e culturais na economia rural. Exemplo disso são os produtores assentados Dorgivaldo Alves e Euranir Oliveira. Muito receptivo e atencioso, o casal conversou com os participantes e mostrou a produção de mandioca, que serve para consumo e comercialização em restaurantes de Pirenópolis.
Esse foi o segundo dia de campo da voluntária Ângela Lima, do GT Manutenção. Segundo ela, o evento é uma oportunidade enriquecedora para entender melhor os processos envolvidos na cadeia produtiva de alimentos. “Cada visita que a gente faz num local de produção tão importante quanto do MST me alimenta muito, não só como voluntária mas como uma agricultora urbana”, pontua.
Já a bióloga colombiana Luísa Liévano se inscreveu para participar no Dia de Campo para conhecer um pouco mais da produção agroecológica de alimentos e o MST. “Foi muito legal escutar as pessoas, (saber) como começaram o movimento e o que eles estão fazendo”, conta ela, que faz doutorado em Ecologia e Evolução na Universidade Federal de Goiás.
“O Dia de Campo atendeu seu objetivo de forma incrível. Muitos participantes saíram agradecidos do evento pela possibilidade de troca e oportunidade de conhecer mais sobre o MST”, explica Olívia Neves, voluntária do GT Eventos que atuou na organização do evento. “Acredito que essa experiência irá agregar muito na formação dos nossos voluntários e isso poderá gerar impactos positivos nas nossas próximas ações”, analisa.