Hoje em dia, muitas organizações não governamentais (ONGs) trabalham na promoção de hortas urbanas. O motivo? A prática de cultivar hortaliças dentro das cidades colabora de forma significativa para o bem-estar da população.
Ao promover o consumo de produtos provenientes de hortas urbanas, contribuímos para a diminuição da fome através de uma alimentação mais saudável, a eventual comercialização desses produtos, pode significar uma importante fonte de renda para os horticultores e por isso contribui também para diminuição da pobreza. Além disso, vale mencionar que o trabalho de horticultura promove o contato com a natureza, garantindo um maior bem estar aos envolvidos. É por isso que as hortas podem ser consideradas espaços terapêuticos de acolhimento a indivíduos enfermos e também marginalizados pela sociedade.
Tendo em vista os vários benefícios, entendemos que plantar nas cidades promove a ocupação de espaços ociosos, revertendo-os em espaços produtivos e é um direito humano, pois proporciona aos indivíduos uma alimentação saudável e a dignidade do trabalho. Entretanto, os conhecimentos sobre a agricultura urbana nem sempre são acessíveis a quem de fato pode se beneficiar dessas hortas. Em alguns casos, há o saber prático, mas ele precisa ser aperfeiçoado para que haja um melhor aproveitamento desses espaços. É aí que entram as ONGs: por meio da assessoria e do suporte de entidades especializadas na área, é possível suprir essas lacunas de conhecimento teórico.
Sem lucros e sem governo
Serviços que provêm assistência em relação ao manejo de hortas urbanas, visando às melhorias sociais que tais espaços podem promover, remetem às responsabilidades estatais para com seus cidadãos. Contudo, o alcance e a eficácia da ação do Estado são insuficientes frente às inúmeras demandas da sociedade.
Nos países tidos como “em desenvolvimento”, nos quais Estado democrático de direito é uma estrutura frágil, a situação é ainda pior, uma vez que grande parte da população não tem acesso aos direitos mais básicos, tais como saúde, educação e alimentação saudável. No caso específico do Brasil, a dimensão territorial dificulta ainda mais o trabalho estatal.
Levando em consideração as vantagens da horticultura nas cidades (clique aqui para ler mais a respeito) e considerando a limitação de atuação do Estado, observa-se que é de suma importância o trabalho de organizações não governamentais em prol da agricultura urbana.
Neste texto, conheceremos algumas entidades que, assim como a EcomAmor, desempenham esse trabalho motivados por um viés social e sem fins lucrativos. Tratam-se de projetos inspiradores, pois fazem plantam e colhem não só alimentos, como também fonte de renda e acolhimento para quem necessita.
Vem conosco!
A CIDADES SEM FOME foi criada no ano de 2004 e atua no estado de São Paulo. Trata-se de uma ONG que desenvolve ações, principalmente de agricultura urbana, pautadas na sustentabilidade e seguindo os princípios da produção orgânica.
A organização foi criada por Hans Dieter Temp, de nacionalidade alemã. Por isso, além de sua sede no Brasil, a entidade conta ainda com um escritório na capital Berlim, destinado à captação de recursos e planejamento para os projetos que são divididos entre hortas comunitárias, hortas escolares e estufas agrícolas.
Na seleção de locais para implantação das hortas, são priorizadas áreas públicas e particulares precárias e ociosas. Não é difícil compreender que os objetivos centrais da ONG vão muito além do trabalho pelo cultivo de hortaliças. A CIDADES SEM FOME cultiva, sobretudo, oportunidades de trabalho para pessoas em situação de vulnerabilidade social e melhorias na situação alimentar e nutricional de crianças e adultos, promovendo autossuficiência tanto financeira quanto de gestão para os beneficiários dos projetos. Em fevereiro de 2019 fizemos uma visita a Hans para iniciarmos uma parceria entre as ONGs e fortalecermos nosso trabalho.
A AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia foi criada em 1983 e desde então atua em benefício do fortalecimento da agricultura familiar e da promoção do desenvolvimento rural sustentável no Brasil. A princípio o trabalho era realizado somente no campo, porém o Programa de Hortas Urbanas foi criado ainda em 1999 e existe até hoje no estado do Rio de Janeiro.
O diferencial do programa é o desenvolvimento de suas atividades com enfoque nos princípios da agroecologia. Sua atuação incentiva a utilização de pequenos espaços em comunidades dentro da cidade para o cultivo de alimentos, plantas medicinais e até mesmo criações de animais.
A AS-PTA busca reconhecer e valorizar tanto as experiências espontâneas quanto os conhecimentos prévios dos beneficiários de suas ações. Ademais, preza pelo acesso aos conhecimentos técnicos apropriados, bem como pelo apoio a variadas formas de organização local.
É válido destacar que o programa possui grandes parceiros, como a Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). É, de fato, uma iniciativa de raízes fortes, uma vez que apresenta em sua trajetória extensa, um trabalho sério realizado e importantes parcerias firmadas.
A entidade sem fins lucrativos Growing Gardens atua na cidade de Portland, no estado de Oregon, localizado na região noroeste dos Estados Unidos. Fundada em 1996, foi batizada primeiramente de Portland Home Garden Project e sua criação foi inspirada no legado de Dan Barker, que se dedicou a um trabalho social de implantação de hortas domésticas urbanas entre 1983 e 1996. A mudança de nome para Growing Gardens (Cultivando Hortas, em uma possível tradução para o português), ocorreu em 1998, e anunciava o início de um trabalho mais amplo, a partir do objetivo central de promover uma comunidade mais saudável e igualitária.
A entidade expandiu sua área de atuação e além de hortas nos quintais de casas de família, passou a desenvolver projetos também em escolas e variadas instituições. Mais recentemente, passou a atuar expressivamente no sistema penitenciário, através de iniciativas relacionadas a horticultura.
Atualmente, o suporte oferecido pela Growing Gardens vai desde ferramentas, sementes e plantas até orientações de horticultura e um monitoramento da horta por três anos. A equipe da instituição precisou acompanhar a dimensão de sua atuação e já conta com centenas de voluntários.
É importante destacar que a presidente e fundadora da EcomAmor, Jordana Mendonça, passou por um período de estágio na Growing Gardens em 2017 em razão de sua seleção para representar a ONG no programa criado pelo presidente americano Barack Obama chamado Young Leaders of the Americas Initiative (YLAI). O legado desse intercâmbio vem sendo aplicado no trabalho da ONG, inspirando novas frentes de atuação, como a implementação de uma horta no Centro de Atendimento Socioeducativo de Goiânia a partir do intercâmbio reverso (vinda de uma integrante da Growing Gardens para o Brasil). Essa horta foi projetada pela EcomAmor com importante participação da estadunidense Rima Green, que esteve no Brasil representando a Growing Gardens. Bem elaborado, o projeto dessa horta foi selecionado para obter patrocínio do Departamento de Estado Americano de junho a dezembro de 2018.
O trabalho da Growing Gardens, grandioso em qualidade e quantidade, revela que a entidade é uma semente de um mundo mais justo, que germina muito além de Portland e dos Estados Unidos.
Essa organização, cujo nome em tradução literal para o português poderia ser algo como Rede Incrível Comestível, foi fundada por Pam Warhurst na Inglaterra. A história começou em 2008 quando Pam, em um encontro com sua amiga Mary, teve a ideia de ocupar os espaços ociosos com plantas comestíveis e medicinais na pequena Todmorden, cidade onde vivia.
A ideia foi colocada em prática e o trabalho foi realizado graças à mobilização de vários moradores interessados pelo projeto, a princípio sem um planejamento formal, mas fazendo nascer, assim, a Incredible Edible Network. A iniciativa fez muito sucesso, tornando a pequena cidade famosa pelos seus canteiros comestíveis. Pessoas passaram a visitar Todmorden com o intuito de conhecer os “jardins de alimentos” e seu conjunto formava uma espécie de rota turística.
Foi observado que, nos anos seguintes, outros grupos passaram a realizar atividades semelhantes, plantando alimentos em lugares vagos de várias cidades da Inglaterra, até que gradativamente a ideia foi se espalhando por todo o mundo e em vários países outros coletivos também desenvolveram projetos inspirados pela Incredible Edible Network.
A fórmula do sucesso talvez possa ser explicada por dois fatores básicos, além do empenho das pioneiras. Primeiramente, a fundadora, Pam Warhurst, sublinha que a comida é uma “linguagem universal” capaz de unir pessoas das mais diferentes culturas e países. Ela também acredita muito na força das pequenas atitudes e enfatiza que, quando as pessoas se mobilizam, mesmo pequenos atos podem gerar grandes feitos.
Atualmente, a Incredible Edible Network continua a trabalhar para manter e aperfeiçoar as hortas urbanas de Todmorden, divulgando seu trabalho para que indivíduos por todo o mundo se organizem por cidades com espaços mais verdes e comestíveis. A própria EcomAmor é um exemplo de organização que se inspira na Incredible Edible Network! Acreditamos que só temos um jardim e, quem sabe até mesmo uma floresta, quando várias sementes germinam juntas.
Respire e se inspire!
Mais que apenas uma lista de organizações que realizam ações semelhantes, os vários exemplos de trabalhos sociais que promovem a agricultura urbana são fontes de inspiração e entusiasmo para nós da EcomAmor realizarmos nosso trabalho. A existência de institutos que realizam projetos com ideais análogos aos nossos, tanto no Brasil, quanto em outros países, reforça a certeza de que não estamos sozinhos.
É gratificante para nós podermos constatar que outras iniciativas também vislumbram a agricultura urbana como um caminho proficiente para uma sociedade melhor, na qual as pessoas possam ter acesso a uma alimentação mais saudável, produzir seu próprio alimento, ter a horta como uma fonte de renda, interagir mais com a natureza, além de se integrarem com seus semelhantes. Tendo em mente essas benesses da agricultura urbana, a equipe EcomAmor se empenha em realizar sempre seu trabalho da melhor forma possível para alcançar sua missão de conectar pessoas à agricultura por meio de hortas urbanas agroecológicas em instituições públicas!
Quer continuar acompanhando o nosso trabalho?
No ano de 2018, em outubro, comemoramos dois anos de existência, com muito amor e histórias pra contar. Brindamos novas conquistas, mas também novos desafios. Em nosso segundo ano de vida, contamos com ampliação das nossas atividades e equipe de voluntários. Muitas ações frutíferas foram realizadas e a agenda deste ano já foi elaborada.
Com a chegada de 2019, iniciamos nossos trabalhos com muita energia e determinação. E garantimos: muitas novidades vêm por aí! Continue acompanhando nosso trabalho por meio do nosso blog e das nossas redes sociais (@EcomAmor).
Texto escrito e enviado por Mariah Freitas Monteiro
Mariah Freitas Monteiro é mestre em História e fotógrafa. Na Ecomamor, trabalhou (2018-2019) como redatora do blog, mas se dedicou principalmente à cobertura fotográfica dos eventos do instituto.
#SEJASEMENTE #PLANTEAMOR
Referências
CIDADES SEM FOME:
https://cidadessemfome.org/pt-br/
AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia:
http://aspta.org.br/programas/programa-de-agricultura-urbana/
http://aspta.org.br/quem-somos/
https://www.facebook.com/asptaagroecologia/
Growing Gardens:
https://www.growing-gardens.org/
http://tribunadoplanalto.com.br/2018/04/02/merenda-saudavel-e-com-amor/
Comentários (4)
CLAUDIA PADIM DIAS OLIVEIRA 17 de abril de 2021 at 12:43 am
Estamos iniciando um projeto Alimentos que salvam que vai compor um projeto chamado jardim da benção. Após quase ter morrido de pneumonia após covid, recebi uma revelação de Deus. Para cuidar dos necessitados. Temos uma área da igreja evangélica Javė Jirê de 50.000 MT quadrado que foi destinada a serviço social para a comunidade. Hoje temos a terra, e o espaço. Precisamos de tudo. O maior desafio a água para irrigar. Todo alimento serão doados às famílias carentes. Este projeto será feito por voluntários. Existe uma ONG que possa nos ajudar. Neste espaço também existe projeto de hospital, escola teologia e profissionalizante, esporte, alojamento e templo.
Otávio Ferreira de Sousa 19 de abril de 2021 at 11:51 pm
Me chamo Otávio Ferreira de Sousa, sou estudante de direito do 3º período e morador do bairro de Barros Filho no condomínio Haroldo de Andrade, estou tentando implementar um projeto que tem por Objetivo, gerar trabalho e renda às famílias em estado de vulnerabilidade social através da produção e comercialização de produtos orgânicos, criando assim condições de aprendizagem de técnicas agrícolas, gestão administrativa e preservação do meio ambiente. Através da capacitação de meios alternativos como estratégia para combater, os efeitos da recessão econômica agravada pela pandemia. Além de desenvolver valores relacionados a cidadania, uma vez que, desenvolvendo cidadãos conscientes de sua função como agente transformador na sociedade qualificamos nosso relacionamento enquanto comunidade e sociedade e por consequência temos melhores condições de vida e moradia através de práticas sustentáveis. Temos aqui! Iniciativa, força de vontade e vontade de trabalhar afim de que transformando sejamos transformados.
Uma das maiores dificuldades e de grande importância é planejar a produção de forma que não falte diversidade e quantidade de produtos ao longo do ano, escalonar a produção para que possamos estar colhendo semanalmente. Existe também a necessidade de mudas e sementes. Caso possa nos ajudar de qualquer forma seremos imensamente agradecidos, em anexo estou encaminhando portfólio do projeto. Vou aproveitar essa oportunidade também para encaminhar uma solicitação que fiz a Fundação Parques e Jardins para a criação de um parque infantil aqui onde moro, pois não há nenhum, caso possa nos ajudar também nesta questão, agradecemos muito.
Panorama do bairro:
” Formado pelas seguintes localidades: Morro do Chaves, Joana D’ Arc, Pedreira, Lagartixa, Quitanda, Conjuntos, Terra Nostra e Sítio do Nera. as duas últimas se constituem verdadeiros bolsões de pobreza. Segundo dados do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), sua população estimada é de 6.718.903 habitantes dos quais 37.7% , tem renda per capita de R$ 175,00, o IDEB nos anos iniciais do ensino fundamental é de 5,7 caindo para 4,7 nos anos finais do ensino fundamental As primeiras áreas deste bairro foram ocupadas: a partir da venda ttide lotes de terra; ou por pessoas provenientes de outros locais, e que foram removidas. Na década de 1960 até meados da década de 1970, vigorava no Rio de Janeiro uma política de remoção de favelas, já foi considerado um dos bairros mais pobres do Rio de Janeiro. Localizado na fronteira com a Baixada Fluminense mais de 80% de sua população encontra-se na classe trabalhadora. O Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos, possui a seguinte porcentagem em relação a classes: classe alta – 7,1%; classes intermediárias – 10,7%; e classes baixas – 82,2%, o índice de desenvolvimento humano teve uma taxa de crescimento negativo (-1,1%), ocupando um dos últimos lugares na classificação (posição 142), considerado também um dos bairros mais violentos da cidade, principalmente pela existência do tráfico de drogas, guerras entre facções rivais e roubo de carros e cargas ”
Facebook e Instagram: Agro-cultura uma Fórmula Mágica da Paz
Nilda 3 de setembro de 2023 at 11:17 pm
Tive minha horta invadida por tratores preciso de voluntários e recursos para comprar causa dada para captação de águas d chuva.
Nilda 14 de julho de 2024 at 1:14 pm
Estou precisando de ajuda para voltar a produzir onde se increve